Crítica| O Filme da Minha Vida


Título: O Filme da Minha Vida
Diretor: Selton Mello;
Roteiro: Selton Mello, Marcelo Vindicato;
Distribuidor: Vitrine Filmes;
Elenco: Johnny Massaro, Vincent Cassel, Bruna Linzmeyer, Ondina Clais, Selton Mello, Bia Arantes.
Classificação: Nenhum texto alternativo automático disponível.

Sinopse:
O jovem Tony (Johnny Massaro) decide retornar a Remanso, Serra Gaúcha, sua cidade natal. Ao chegar, ele descobre que Nicolas (Vincent Cassel), seu pai, voltou para França alegando sentir falta dos amigos e do país de origem. Tony acaba tornando-se professor, e vê-se em meio aos conflitos e inexperiências juvenis.


                                                  Crítica

"O Filme da Minha Vida", terceiro filme dirigido por Selton Melo, é intímo e de um tom imemorial, singelo ao espectador como um antigo retrato de família.

Remanso, Serra Gaúcha, década de 60, uma pacata vila que reflete a beleza do modo de vida do interior. É nesse cenário, em que todos os pequenos fatos da vida são importantes e que os sonhos transcendem as limitações físicas para comporem o ambiente além do material, que Tony Terranova (Johnny Massaro) inicia sua jornada de auto-conhecimento. O jovem professor volta a Remanso depois de anos estudando na França, encontrando o mesmo cenário da infância com a sentida ausência de uma figura muito cara, Nicolas (Vincent Cassel), seu pai, que partiu antes mesmo da sua chegada sem dar explicações.

O sentimento de ausência do pai é uma espécie de condão ilusório para Tony. Nesse personagem emergem questões sobre a vida, identidade e sentimentos, que o levam a uma estrada de auto-descoberta e amadurecimento. As lembranças são um elemento muito forte na construção narrativa do filme, nos remetendo à nostalgia da infância.

O roteiro, rico em metalinguagem e poesia, é presenteado com uma belíssima fotografia que deixará o espectador impressionado, assim como a trilhasonora, mescla de músicas francesas e brasilerias. A narrativa de cunho intimista espanta pela leveza ao mesmo tempo em que trata questões mais complexas do ser, momentos nos quais nos aproximamos mais do enredo e nos sentimos parte da história. O figurino e a cenografia estão irretocáveis, transpondo-nos aquele local como se vivéssemos uma memória alheia que nos concerne por sentimento e verdade.

Por se tratar de adaptação de uma obra muito sensível e poética, delicada para ser transposta às telas do cinema, seria um grande perigo haver uma quebra de ritmo narrativo ou que houvesse a pretensão em excesso. Um dos grandes méritos da película é integrar perfeitamente a técnica com a história, não havendo nenhum descolamento. Ademais, por sua abordagem rapidamente nos sentimos íntimos dos personagens.

Além de dirigir, Selton Mello também atua no filme, encarnando o lavrador Paco com uma ótima interpretação, demonstrando porque é um dos grandes atores da sua geração. Johnny Massaro cresce em cena, não só pela sua desenvoltura mas pela excelente caracterização do personagem, que ao mesmo tempo que possui olhos infantis, tem a postura e rebeldia de um Beatle. Uma grata aparição é a do escritor chileno Antonio Skarmeta, autor de "Um pai de cinema", obra que ele mesmo quis que fosse adaptada por um diretor brasileiro, um casamento entre literatura e cinema latino-americano.

Sobre as atrizes, Bruna Linzmeyer consegue capturar a essência de sua personagem sonhadora, a Luna, mas soa televisiva em alguns momentos. Bia Arantes (Petra) e Ondina Clais (Sofia Terranova) surpreendem, a primeira pela sua forte presença de cena e a outra pela forma simples mas visceral como abraça a angústia e a vitalidade de Sofia.


"O Filme da Minha Vida" é um dos filmes nacionais mais esperados do ano, é a celebração do sentimento latino-americano que traduz à linguagem do cinema a beleza da vida humana.

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